domingo, 1 de abril de 2012

RELENDO PESSOA...

A guerra que aflige - Alberto Caeiro

A guerra que aflige com os seus esquadrões o Mundo,
É o tipo perfeito do erro da filosofia.

A guerra, como tudo humano, quer alterar.
Mas a guerra, mais do que tudo, quer alterar e alterar muito
E alterar depressa.

Mas a guerra inflige a morte.
E a morte é o desprezo do universo por nós.
Tendo por consequência a morte, a guerra prova que é falsa.
Sendo falsa, prova que é falso todo o querer-alterar.

Deixemos o universo exterior e os outros homens onde a Natureza os pôs.
Tudo é orgulho e inconsciência.
Tudo é querer mexer-se, fazer cousas, deixar rasto.
Pára o coração e o comandante dos esquadrões
Regressa aos bocados o universo exterior.

A química directa da Natureza
Não deixa lugar vago para o pensamento.

A humanidade é uma revolta de escravos.
A humanidade é um governo usurpado pelo povo.
Existe porque usurpou, mas erra porque usurpar é não ter direito.

Deixai existir o mundo exterior e a humanidade natural!
Paz a todas as cousas pré-humanas, mesmo no homem!
Paz à essência inteiramente exterior do Universo!

Alberto Caeiro (Lisboa, Portugal, 1889 - Lisboa, Portugal, 1916) - É um dos mais populares heterônimos de Fernando Pessoa (Lisboa, Portugal, 13 de junho de 1888 - Lisboa, 30 de novembro de 1935). Poeta ligado à natureza, escreveu o Pastor Amoroso e O Guardador de Rebanhos. Disse uma vez Fernando Pessoa que "Caeiro era de estatura média, e embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era [...] louro sem cor, olhos azuis". Nesta semana, somente poemas deste grande personagem da literatura

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