quinta-feira, 19 de abril de 2012

O CENTENÁRIO DE FRANCISCO BEZERRA SOUTO...POR BERNARDO CELESTINO PIMENTEL BEZERRA SOUTO.

A CASA FRANCISQUINHO BEZERRA: HÁ OITENTA E CINCO ANOS NO CORAÇÃO DE NOVA CRUZ...

SE ESTIVESSE VIVO, meu pai completaria hoje, cem anos...viveu até os setenta e seis...e teve saúde até os sessenta e quatro...

Sou o filho caçula de Francisco Bezerra souto,ou Francisquinho Bezerra ou CHICO BEZERRA...um comerciante que pontificou no seu tempo, em Nova Cruz...

O comércio era o trabalho e o prazer do meu pai...gostava de vender...tinha prazer em despachar...

Cresceu numa família pobre, mas repleta de disciplina e bons modos...era sobrinho do PROFESSOR CLEMENTINO CÃMARA...

Constatei na vida, tudo o que meu pai me ensinou...sem exceção...
o que ele falou que era bom, era...quem ele disse que era ruim era...tinha sabedoria para o comércio e a vida...
venceu com o seu próprio esforço...comprou o seu primeiro creme dental,quando começou a tocar na banda da cidade,clarinete...se criou lavando os dentes com juá...

Conseguiu de balconista,ser o dono do negócio...teve um comércio próspero no agreste...dominava...comprava diretamente das fábricas...vendia tudo...de milho alpiste a espoleta...de querosene Jacaré a baralho 139...

NUNCA CONHECÍ UM COMÉRCIO QUE TIVESSE A DIVERSIDADE DO NOSSO, ATÉ HOJE...de Nova Cruz, importava bacalhau da Noruega...

MEU PAI TINHA PRAZER DO BALCÃO...E NOS CRIOU, COM A OBRIGAÇÃO DE APRENDER NO BALCÃO, TUDO...

Juntou muito dinheiro, MAS VIVIA DENTRO DA PALAVRA ECONOMIZAR... nunca estragou, nunca esbanjou...viveu tomando conta do que era seu, sem nunca entrar no de ninguém...

NUNCA FEZ UM PAPEL SUJO...NUNCA PARTICIPOU DE NENHUMA BANDALHEIRA...SÓ RENDIA HOMENAGEM A DEUS...ESTE, ELE TEMIA...

TODO O DOMINGO, pela manhã, parava o comércio, vestia palitó e gravata, e ia rezar...era sagrado...não brincava contra as coisas de Deus...nadava em dinheiro, mas vivia modestamente...condenava o estrago, o esbanjamento...


ANALISANDO HOJE, A NOSSA CONVIVÊNCIA, sinto o quanto ele era importante, como ele era exato,como redigia bem um texto, sem ter muito estudo...como sabia orientar...como repreendia veementemente na hora certa e inadiável...


Ainda criança lembro-me de um ensinamento...estava com ele no balcão, E PASSOU UM CIDADÃO desfilando num carro zero...e eu, falei, papai fulano está é bem...ele perguntou, por que ? está num carro zero...ele repreendeu: NUNCA DIGA QUE ALGUÉM VAI BEM POR QUE COMPROU UM CARRO ZERO...EU POSSO COMPRAR DEZ DESTE, E NÃO TENHO NENHUM NEM ESTOU MAL...


Era UM HOMEM DE AMIZADES SOCIAIS...DE BATER PAPO...ADORAVA SENTAR Á NOITE, NA ESQUINA DE António NECO...
ERA UM HOMEM DA UDN...GOSTAVA DE ASSISTIR A UM COMÍCIO, mas, pela influencia da minha mãe, que era da UDN, estimulada pelo seu tio, O DR. LUIZ ANTONIO...

NO COMÉRCIO, SEU ÍDOLO MAIOR ERA ORLANDO GADELHA, JOSÉ GADELHA...além de HUMBERTO TEIXEIRA, que represntava ALIMONDA IRMÃOS EM NATAL,a margarina BEMTE VÍ...

GOSTAVA MUITO DE WILSON JUVINO, QUE REPRESENTAVA A FIAT LUX, O FÓSFORO MARCA OLHO, E ERA AMIGO DE JÚLIO CESAR,QUE REPRESENTAVA PRINCIPALMENTE A MANTEIGA TURVO, E o BARALHO 139...

nasceu, VIVEU E MORREU EM NOVA CRUZ...ERA AMIGO DE SEU ARRUDA, O ANTONIO ARRUDA CÃMARA, O GRANDE PATRIARCA...gostava de LUIZ MACIEL...


recusou VIR PARA NATAL,SER VIZINHO DE ORLANDO GADELHA, PARA DESLANCHAR OS NEGÓCIOS...DISSE A ORLANDO:EU NÃO TENHO CORAGEM DE SAIR DE NOVA CRUZ...

FOI PARANDO NO TEMPO...COLOCOU TODOS OS SEUS OVOS EM UMA ÚNICA CESTA..

.AOS SESSENTA E QUATRO ANOS,QUANDO PASSEI NO VESTIBULAR DE MEDICINA,TEVE UMA TROMBOSE,ficando hemiplégico...NINGUÉM É MAIS NINGUÉM, DEPOIS QUE UMA TROMBOSE LHE TIRA OS MOVIMENTOS,ENTORTA A BÔCA, E TRAZ A DEPRESSÃO...

VIDA EXEMPLAR...UM RICO QUE VIVIA MODESTAMENTE...TINHA LOUCURA PELA MINHA MÃE...VIVIA DO COMÉRCIO PRA CASA...SÓ DEIXAVA O COMÉRCIO PARA A IGREJA,SEU PORTO SEGURO,ONDE ELE TRANSCENDIA...
QUERIA QUE HOJE ELE ESTIVESSE VIVO,PARA ME FAZER UMA VISITA,conhecer os seus netos:Breno, Brena,e Bruno...assistir o reporter numa TV de cinquenta polegadas á cores...
dormir num ar condicionado SPLIT e com edredon...passear no MIDWAY, sentar no café Santa Clara...passar o veraneio na barra de cunhaú, na casa de Violante com todos o seus netos...almoçar no guinza...jantar nos Camarões...tomar um bom vinho francês ou chileno...andar em carros confortáveis, com ar condicionado....


NA SUA VIDA,O SEU Midway foi a calçada de António Neco...só tomou café em casa...
seu vinho era uma sangria feito com o vinho SANGUE DE BOI, aos domingos, em casa...o seu repórter era num rádio á bateria, que chiava mais do que dava notícia....sua praia era o açude pau-barriga...o seu carro era o jeep de praça de ERNANI RAMALHO.

SE HOJE ELE PUDESSE COMPARTILHAR DAS NOSSAS VIDAS, MORRERIA DE PRAZER, TERIA ORGULHO, ADORARIA...MAS TENHO CERTEZA QUE DE VEZ EM QUANDO RECLAMARIA:ou povo estragado...ou povo louco!!!


Meu querido pai...eu sei onde você está...este lugar você conquistou durante toda uma vida na terra...receba o meu amor e o meu reconhecimento...até um dia...

beijos...VOCÊ TINHA TODA RAZÃO...


BERNARDO CELESTINO PIMENTEL BEZERRA SOUTO


O Velho Francisco

Chico Buarque

Já gozei de boa vida
Tinha até meu bangalô
Cobertor, comida
Roupa lavada
Vida veio e me levou

Fui eu mesmo alforriado
Pela mão do Imperador
Tive terra, arado
Cavalo e brida
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco
Vem todo domingo
Tem cheiro de flor

Quem me vê, vê nem bagaço
Do que viu quem me enfrentou
Campeão do mundo
Em queda de braço
Vida veio e me levou

Li jornal, bula e prefácio
Que aprendi sem professor
Freqüentei palácio
Sem fazer feio
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Ela vem toda de brinco
Vem todo domingo
Tem cheiro de flor

Eu gerei dezoito filhas
Me tornei navegador
Vice-rei das ilhas
Da Caraíba
Vida veio e me levou

Fechei negócio da China
Desbravei o interior
Possuí mina
De prata, jazida
Vida veio e me levou

Hoje é dia de visita
Vem aí meu grande amor
Hoje não deram almoço, né
Acho que o moço até
Nem me lavou

Acho que fui deputado
Acho que tudo acabou
Quase que
Já não me lembro de nada
Vida veio e me levou

O VELHO

CHICO BUARQUE

O velho sem conselhos
De joelhos
De partida
Carrega com certeza
Todo o peso
Da sua vida
Então eu lhe pergunto pelo amor
A vida iteira, diz que se guardou
Do carnaval, da brincadeira
Que ele não brincou
Me diga agora
O que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo
Pra deixar
Nada
Só a caminhada
Longa, pra nenhum lugar

O velho de partida
Deixa a vida
Sem saudades
Sem dívida, sem saldo
Sem rival
Ou amizade
Então eu lhe pergunto pelo amor
Ele me diz que sempre se escondeu
Não se comprometeu
Nem nunca se entregou
E diga agora
O que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo
Pra deixar
Nada
E eu vejo a triste estrada
Onde um dia eu vou parar

O velho vai-se agora
Vai-se embora
Sem bagagem
Não sabe pra que veio
Foi passeio
Foi passagem
Então eu lhe pergunto pelo amor
Ele me é franco
Mostra um verso manco
De um caderno em branco
Que já fechou
Me diga agora
O que é que eu digo ao povo
O que é que tem de novo
Pra deixar
Não
Foi tudo escrito em vão
E eu lhe peço perdão
Mas não vou lastimar

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